31.3.06

 

Sobre os Tumultos de França


A observação de dois quadros com caricaturas das manifestações de Paris, as de 1968 e as actuais, publicados, segundo creio, na Revista Visão, de 30-03-2006, oferece-nos um bom motivo para tecer algumas considerações a respeito dos contrastes, ricos de contradições, que entre elas se podem estabelecer.

Dir-se-ia que os jovens franceses do mítico Maio de 68, à força de tudo rejeitarem, deram origem, voluntaria ou involutariamente, às presentes contradições : em lugar da multiplicação dos típicos Bistrots da antiga cidade-luz, esta vê-se hoje, cada vez mais, povoada de ruidosos Mcdonnalds, com toneladas de hambúrgueres e torrentes de repetitiva música Rock; ao amor livre e natural, sucedeu-se o dos contactos com máscaras e preservativos assépticos e, suprema ironia, os jovens de 2006 defendem agora a estabilidade nos empregos, a execrável estabilidade burguesa, para os de 68, contra a aventura dos contratos flexíveis, ultra-leves, propostos por alguns ex-revolucionários desse tempo, hoje porventura de coração contrito, recuperados e recompensados com os amáveis confortos da outrora odiada ordem burguesa.

São estes mesmos, uma grande parte, pelo menos, que, investidos em funções mandantes, recomendam e enaltecem as vantagens da precariedade da moderna legislação laboral, contra a rigidez da antiga, coisa presentemente considerada pouco menos que nefanda, que, alegam, só prejudica os jovens, além de os atrapalhar, a eles, magníficos gestores, que, assim, não podem contratar e suprimir mão-de-obra e serviços, com inteira liberdade, o que, inelutavelmente, os impedirá de promover a desejada criação de Emprego, sua primeira e generosa intenção.

Há aqui qualquer coisa de perverso, no meio de toda esta conversa, feita por quem carece de credibilidade para a fazer, que fica sempre a bom recato das consequências funestas daquilo que preconiza para os demais, neste caso jovens, mas também, não raro, menos jovens.

Curiosamente, como observador distante, mas interessado, vejo maior pertinência neste movimento de contestação a uma futura lei laboral, descontando obviamente os excessos de violência praticados, do que no de Maio de 68, de que guardo uma vaga memória de adolescente atónito com a ousadia estudantil francesa então demonstrada.

Nessa altura, a França vivia um período de expansão económica, com um Estado de Bem-Estar Social já bastante desenvolvido, após os anos de ressaca das agruras colectivas da Segunda Guerra Mundial. Tinha à sua frente um homem de grande visão e de autoridade inequivocamente acatada, porque fundada na coragem evidenciada nos tempos duros da derrocada civil e militar dos acomodados franceses, os seus mais altos responsáveis políticos e militares, que aceitaram a vergonha de Vichy e se recusaram a lutar, apesar dos apelos e do gestos de solidariedade activa de W. Churchill.

Praticamente, só De Gaulle se ergueu contra a ignomínia da desistência, arriscando-se a ser preso e condenado por traição, por exortar os franceses à continuação da luta. O tempo se encarregaria de lhe dar razão. De uma Nação vencida, humilhada e ultrajada, De Gaulle forjou, no espaço de 5 anos, uma Nação vencedora, com estatuto quase idêntico ao dos outros três grandes aliados. Não é feito vulgar. Por isso, o seu prestígio e autoridade eram imensos não só em toda a França, como no resto do mundo.

A par disso, após doze anos de auto-afastamento, De Gaulle, correspondendo a um vasto anseio popular, retornou ao poder para traçar e consolidar as grandes opções do desenvolvimento económico, militar, científico e social do seu País.

Deu-lhe poder e prestígio militar, fortaleceu a autonomia energética da França, dotando-a de capacidade para desenvolver a energia nuclear, quer para fins civis, quer para objectivos militares, fez a França entrar no Conselho de Segurança da ONU, afirmou-a ante o poderio americano e soviético, reforçou a Comunidade Europeia, entendendo-se especialmente bem com a Alemanha, a antiga potência inimiga, tudo isto, colocando sempre, num plano muito alto, os interesses do seu País e da Comunidade Europeia, contra, sobretudo, a relutância de americanos e ingleses.

Quando, apesar de todo o seu empenho em favor da França, verificou que, afinal, uma parte importante dos seus compatriotas já não o apoiava, retirou-se, de novo, voluntariamente, na sequência de um episódio político de menor importância. O Maio de 68 desgostara-o sobremaneira; não lhe achava motivos suficientes para tanta exibição de descontentamento, também então violentamente demonstrado.

Muita loucura e devaneio animava aquela gente moça, na sua maior parte, de repente enfurecida contra a «sociedade de consumo burguesa», afinal, tão generosa, económica e socialmente, como hoje já muitos o reconhecem.

Acresce, para nossa nunca demasiada reflexão, que grande parte dos exaltados de 68 era seguidora das maiores tiranias políticas que a História Moderna regista, que, felizmente, não vingaram, acabando em profunda desilusão para muitos milhões de pessoas em todo o mundo, amarguradas com tamanha fraude, finalmente revelada e como tal percebida.

Hoje, ao contrário, parece-me que há maior razão para o descontentamento juvenil, sem com isto pretender justificar o vandalismo exibido. Os jovens, principalmente, vêem o actual Estado de Bem-Estar Social a desaparecer, os empregos precários a aumentar e as desigualdades sociais a crescer a ritmo acelerado. Começam a sentir-se cada vez mais inseguros, sem estabilidade no Emprego e com salários modestos, não obstante as suas elevadas qualificações, mesmo quando têm a sorte de encontrar trabalho em Empresas de topo, cotadas na bolsa, com lucros anuais continuados.

Já sabemos que lhes dizem que aquele tipo de contratos visa facilitar a criação de emprego, mas a sua falta de confiança é enorme, porque aquilo a que assistem é ao contínuo emagrecimento do Estado Social e à imposição sistemática da precariedade social. Não era essa a expectativa dos europeus, quando se desmoronou a última utopia política e social do século XX : a utopia comunista.

Bem podem acenar-lhes com os exemplos da China, dos tigres asiáticos e de outros países onde, aparentemente, a Economia floresce debaixo de ligeiríssimas condições sociais, porque isso não os consegue motivar, dado o plano em que anteriormente os jovens europeus se situavam.

Além disso, quem faz essas propostas, normalmente, está ao abrigo delas, i.e., vive em condições de grande conforto, em permanente estado de posperidade, independentemente das conjunturas, não arrisca nada ou muito pouco e, por conseguinte, carece de completa autoridade moral para se fazer acatar.

Este é, a meu ver, o grande problema das actuais sociedades desenvolvidas, em particular, das do chamado mundo ocidental, designação, na verdade incómoda ou incongruente, por tradicionalmente englobar países como o Japão.

Qualquer socialista moderado, social-democrata ou democrata-cristão ou simplesmente pessoa de bem, deverá, naturalmente, presumo eu, sentir, no mais íntimo da sua consciência, esta preocupação pelo crescimento da precariedade social, que de há uns anos avança de modo arrasador pela Europa toda, perante a apatia de muitos daqueles de quem se esperaria firme oposição.

Será socialmente perverso e, no final, desastroso, se apenas os extremos políticos se interessarem por estes assuntos.

AV_Lisboa, 31-03-2006

PS : Reitero para dissipar dúvidas que nada do que fica dito serve para justificar actos de pura selvajaria praticados por desordeiros, com exibição de violência gratuita nas ruas de Paris nos últimos dias ; muito menos, quando se percebe que grande parte daqueles manifestantes mais exaltados, que vemos nas reportagens das TV, transitaram em directo de anteriores arruaças, ainda não completamente extintas.

28.3.06

 

A Indignação Selectiva

Eis um caso para ponderar por aqueles que, com frequência, acusam o Estado Português de agir com excesso de zelo ou mesmo movido por sentimentos de xenofobia, quando este procura combater a entrada de imigrantes ilegais em Portugal, país exíguo, de escassos recursos e com uma elevada taxa de desemprego :

O Canadá, vasto país, de fartos recursos, de baixa densidade populacional, tem em curso um programa inexorável de expulsão de emigrantes portugueses, famílias constituídas, algumas já aí residentes há cerca de oito anos, integradas na Comunidade, sem registos criminais, nem outros dados de convivência conflituosa, mas, apesar disso, vítimas de expulsão sumária e definitiva.

Que dirão agora, em Portugal, os habituais exaltados arautos da defesa das liberdades individuais, sempre prontos a acusar o Estado Português dos mais nefandos intentos, quando este apenas pretende aplicar leis e normativas da União Europeia, relativas ao controlo de fronteiras, a que, solidariamente, com os restantes países-membros da União, a tal se encontra obrigado ?

Aguardemos, pois, serenamente, a manifestação dessas genuínas e ruidosas vozes humanitárias...

AV_Lisboa, 28 de Março de 2006

27.3.06

 

O Moderno Empobrecimento Cultural

Dando corpo a um conselho de um confrade da blogosfera, vou refazer aqui um comentário que coloquei numa das suas interessantes crónicas, a propósito de um pequeno incidente linguístico internacional, por acaso, protagonizado por figura por quem não nutro especial simpatia : Jacques Chirac.

Entre os nossos putativos líderes de opinião, sejam eles dirigentes políticos, jornalistas, comentadores da Comunicação Social, gestores, aclamados ou meros aspirantes a um lugar ao sol no eldorado dos Media ( do latim, plural de medium, pronunciado à latina, como média e não à inglesa, como mídia, bagatelas culturais, mas que convém repetir, porventura até à exaustão, dada a presente córnea presunção filo-anglófona ), prevalece uma linha de pensamento pró-liberal, sobretudo no ramo social e económico, que não no das ideias, a qual, por pouco contrariada, ameaça tornar-se uma espécie de pensamento único, pronto-a-vestir, santo e senha de todo o sucesso.

Este pensamento neo-liberal, chamemos-lhe assim, pretensamente moderno, evoluído, vanguardista, todo ele hoje se pavoneia, nos mais variados palcos, criticando, por vezo, com chacota e jactância, a cultura francesa e até o uso da Língua Francesa. Normalmente, os que mais neste vezo se destacam fazem-no na justa medida em que ignoram uma e outra, coisa que não lhes causa nenhum embaraço, nem, o que é de mais espantar, repreensão dos circunstantes.

À força de tanto ostracizarem a cultura francesa, desvalorizam aquilo que, mesmo os líderes americanos, supostamente os adorados modelos desses neo-liberais, afinal, apreciam e respeitam, ainda que não o declarem expressamente.

Jacques Chirac, que está longe de poder considerar-se um ícone da França, de qualquer imaginado ponto de vista, fez muito bem em reagir daquela maneira ostensiva, abandonando a sala, quando o seu compatriota discursava em Língua Inglesa, verberando dessa forma a insensatez do seu compatriota.

Na verdade, se queremos afirmar a nossa língua e a nossa cultura, numa altura em que uma outra, a de Língua Inglesa, se pretende impor de forma absolutamente hegemónica, por vezes mesmo arrogante e desrespeitadora das demais, não faz sentido que sejam os próprios representantes do poder político das culturas subalternizadas a abdicarem do uso e da defesa das suas próprias línguas e culturas.

Além do mais, perguntar-se-á : que ganharemos nós, cidadãos europeus, com o domínio absoluto da monocultura anglo-saxónica que parece querem impor-nos ?

Ainda há coisa de trinta anos, qualquer aluno do Liceu, mesmo que se destinasse às Ciências ou às Engenharias faria obrigatoriamente cinco anos de aprendizagem de Francês, com leitura de textos, análise literária, gramatical, redacção de composições, traduções, retroversões, etc.

Acaso não veremos aqui mais um fenómeno do crescente empobrecimento cultural em que desnecessariamente estamos a cair ?

Porque uma coisa é adoptar, como língua prática de comunicação, espécie de Lingua Franca de nossos dias, o inglês, língua hodierna que mais se presta a essa função, por facilidade da sua aprendizagem e da sua melhor adequação à comunicação geral, imediata, de convívio e de sobrevivência ; outra, muito diferente, é desprezarmos a nossa própria língua e a nossa cultura, obra colectiva de séculos de culto de muitos esmerados espíritos, que aqui nos antecederam e que, com o seu esforço e engenho, nos legaram uma dignidade específica.

Demais, deve lembrar-se aos mais eufóricos com a elevação cultural pelo uso do inglês que a maioria dos seus falantes internacionais, como língua não materna, metralha uma linguagem pobre, de escasso vocabulário, de baixo quilate e retorcida sintaxe, ou seja, pouco mais que um tosco e grosseiro idioma, aquilo a que alguns britânicos já apelidaram de continental english, muitas vezes de difícil percepção para os genuínos anglófonos e para os que, com eles, esforçadamente, aprenderam a erradamente considerada fácil língua de Shakespeare.

Será fácil, se com ela apenas visarmos o nível da sobrevivência ou da mera cortesia social. No mais, podem os menos convencidos desta verdade nela se adentrar, que logo a dita, a inglesa língua, se lhes revelará muito mais trabalhosa que o apregoado.

Em todo o caso, nada justifica o descaso para que alguns, inconsideradamente, empurram as línguas nacionais de raiz latina, em geral, e a francesa, em particular.

Por isso, há que compreender e apoiar a atitude do Presidente francês, por uma vez, coerente e correcto na sua actuação política e verberar a infeliz iniciativa do seu compatriota que optou por discursar em língua inglesa.

Por cá, também temos muitos, demasiados, destes voluntariosos poliglotas que acham sempre motivo para preferirem a língua do interlocutor : inglês, francês ou espanhol, à sua própria, no afã de agradarem a eventuais novos amos.


AV_Lisboa, 27 de Março de 2006

P.S. Em breve, será igualmente preciso abordar o tema da incultura científica, praga avassaladora que urge combater. Analogamente, torna-se necessário escrever algumas notas elementares sobre conceitos fundamentais da Ciência, como o da Energia, começando pela caridade de distinguir as unidades da dita, das da Potência, coisa que, pelo que se vê, se afigura de extraordinária dificuldade para a maioria dos alegados especialistas.

Numa altura em que até os Advogados escrevem sobre a Energia Nuclear e dizem coisas hilariantes, como aquela de «... ao fim de 10 anos, a nocividade dos elementos estar reduzida a metade...», como li na semana passada, no Jornal de Negócios, é tempo de travar o passo a este novo obscurantismo.

Quando um protagonista como o nosso ex-grande líder, agora residente em Bruxelas, descobre subitamente o seu interesse pelas questões energéticas, é certamente altura de contribuir com alguma sensatez para a discussão que se avizinha.

5.3.06

 

A Ansiedade pela Conquista do Estatuto Social

Refiro-me a um tema favorito de Alain de Botton, jovem filósofo, escritor e autor de programas televisivos, de invulgar qualidade, como aquele que recentemente passou na TV portuguesa, canal 2, baseado num dos seus últimos livros – Status Anxiety –, a ansiedade induzida pela busca do famigerado Estatuto Social, grande geradora do stress, da angústia e da insatisfação com que vivemos na nossa sociedade contemporânea, apesar dos milhares de objectos e utilidades que nos rodeiam, supostamente para nosso conforto pessoal, como insistentemente as campanhas publicitárias no-lo recordam.

Na sua génese, encontramos aquele banalizado conceito, segundo o qual só existe, socialmente, quem tem o genericamente ambicionado Estatuto Social, ou quem exibe os correspondentes sinais da sua existência.

É utilizada por Alain de Botton, no seu livro, a equação do bem-estar pessoal, também designada da Auto-Estima : S = Somatório das Realizações (pessoais)/Somatório das Expectativas (pessoais), que ele foi buscar a William James, filósofo americano do século XIX, muito interessado igualmente pela Psicologia e um dos primeiros a estudar o efeito das expectativas crescentes na auto-estima das pessoas, desta forma seriamente ameaçada.

Como vemos, trata-se de uma perversa equação, visto que, por regra, para a maioria dos indivíduos, o denominador cresce mais depressa que o numerador, por mais que o indivíduo se esforce... Salvo se ele, voluntariamente, reduzir significativamente as suas expectativas, coisa quase impossível, no contexto actual em que vive, com a omnipresente publicidade a lembrar-lhe, a cada instante, todos os objectivos, quase sempre apresentados com os decorrentes prazeres associados, que lhe falta atingir para se sentir animado de uma boa auto-estima.

Para esses objectivos terá, contudo, de trabalhar, com afinco, continuamente, quiçá, de modo insano...

Daí, a sua excruciante ansiedade, eminentemente geradora de stress, que, com frequência, fará nascer no indivíduo um penoso sentimento de frustração, de culpa, de inutilidade pessoal, situação que pode originar uma espiral complexa e perigosa de pensamentos e sentimentos depressivos, capaz de lhe causar a maior ruína pessoal.

Neste transe, o indivíduo pode até enveredar pela prática de todo o expediente, legal ou ilegal, que ele considere necessário para atingir os seus objectivos.

Se mesmo assim, não o conseguir, a situação pode tornar-se-lhe tão penosa que o leve a cair nas malhas da droga, loucura ou morte, trilogia de evocação amarga, para muitos portugueses, escapes, todavia, sempre possíveis, para situações de extrema aflição ou angústia, sentidas como insuportáveis.

No programa televisivo aludido, Alain de Botton, filósofo de pendor algo epicurista, ouso admitir, senhor de um extraordinário poder comunicativo, vai percorrendo localidades, países, inquirindo pessoas sobre o seu modo de vida, deixando-as falar, acrescentando as suas formulações filosóficas, num ritmo rápido, mas não obsessivo, em tom quase coloquial, que nos dispõe agradavelmente atentos e reflexivos, como porventura ele o desejou ao inventar o programa. Desafortunadamente, o programa chegou ao fim, há coisa de duas semanas.

Oxalá (expressão que, actualmente, confesso, me custa articular) voltem a apresentar este e outros que ele certamente ainda virá a fazer, porque é notória a sua aptidão comunicativa, ainda por cima, ao serviço da inteligência e do bom-senso, o que quer que seja que isto hoje signifique.

Com estes programas, o serviço público de Televisão sai honrado e contribui alguma coisa para a sanidade mental da população, fortemente abalada, com a dieta de Telenovelas e Concursos com que os diversos canais esgotam o seu horário chamado nobre. Dir-se-ia que só a partir da 1 da manhã libertam a programação daquela nefasta dieta, como se os que, àquela hora, estoicamente resistissem fossem os privilegiados do ócio ou os verdadeiramente isentos de horário laboral.

Esperemos que algum senso resida na cabeça dos responsáveis, para darem mais atenção à composição das programações televisivas. Terão de lembrar-se que o próprio público alvo não se situa esmagadoramente na casa dos 20-30 anos, mas pelo contrário tende a acompanhar a evolução geral das sociedades contemporâneas, com sectores de idosos cada vez mais importantes, aliás, grandes consumidores de programas de TV.

Estes acabam inevitavelmente, não obstante a sua fraca qualidade, por ser a sua principal companhia social, porque as famílias se reduziram e também não têm tempo para deles se ocuparem. De resto, hoje parece que ninguém tem tempo para coisa nehuma, excepto para aquilo que se imagina do interesse pessoal, imediato, ainda que, muitas vezes, esse imaginado interesse redunde numa decepção completa, fria, amarga e por demais deprimente.

Mas, o que é o Homem senão um incurável coleccionador de decepções, de angústias e de alguns, infelizmente poucos, para a maioria, momentos de alegria ?

São, no entanto, estes momentos de alegria, ainda que fugazes, que lhe permitem retomar a caminhada, persistindo na sua quimérica colecção.

AV_Lisboa, 05 de Março de 2006

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